Notícias :: Solidariedade e tradição – A Tribuna 31/10/2025
Maurilio Tadeu de Campos
Mestre em educação, escritor, presidente da Contemporânea - Projetos Culturais emembro das Academias Vicentina e Santista de Letras
Jornal A Tribuna
Coluna Opinião - Tribuna Livre
Domingo - 31/10/2025
Pão por Deus é uma manifestação cultural de origem portuguesa, semelhante ao Halloween, celebrada em 1º de novembro, Dia de Todos os Santos. Misturando fé e costumes populares, crianças percorrem as ruas para pedir "pão por Deus" de casa em casa, entoando versos tradicionais e recebendo pães, frutas, bolos e outras guloseimas. Na infância, ouvia meus pais relatarem essa data com entusiasmo, destacando sua relevância. Quando crianças, aproveitavam a ocasião para visitar vizinhos em busca de donativos. Ao voltarem para casa, carregados das oferendas, seus pais os orientavam a separar e embalar tudo com cuidado, para que os itens fossem entregues aos mais carentes.
Essa tradição representa a partilha e a empatia entre as pessoas, especialmente com os que enfrentam dificuldades. Além disso, é uma oportunidade de educativa para os pequenos aprenderem sobre generosidade; valor essencial em tempos de desigualdade social, em que poucos têm muito e muitos têm pouco. Embora hoje essa prática esteja menos presente, ela poderia ser resgatada como um momento de união familiar e de reflexão sobre as necessidades do próximo. A celebração, que hoje em dia quase não esteja sendo, de fato, posta em prática, poderia reacender o exercício da filantropia e da compaixão, valores que se diluíram com o passar dos anos.
A festa, trazida ao Brasil por imigrantes portugueses, ainda sobrevive em locais como São Francisco do Sul e Florianópolis, Santa Catarina, onde é conhecida como Festilha. Nessa versão brasileira, as crianças saem às ruas fantasiadas e carregando figuras de papel acetinado, geralmente em forma de coração, com versos que pedem doações. Em troca, recebem alimentos que são armazenados para, em seguida, serem distribuídos aos mais necessitados.
A prática no Brasil está mais fortemente ligada às culturas açoriana e madeirense, influenciando a identidade catarinense. Mais do que uma festa, é uma expressão de fé, gratidão e de boas práticas do necessário amor ao próximo. A celebração é uma forma de homenagear os antepassados, lembrados por suas lições, que continuam vivas, transmitidas de geração em geração.
Apesar das diferenças culturais e históricas, o Halloween e o Pão por Deus compartilham elementos que envolvem a fantasia, o espírito comunitário e a generosidade. O Halloween se popularizou por suas fantasias assustadoras e doces distribuídos em clima festivo. O Pão por Deus possui dimensão espiritual e solidária. Resgatar e valorizar ambas as celebrações é uma forma de reconhecer que, por trás das máscaras e dos versos, existe um desejo comum: o de unir pessoas em torno da memória, da partilha e da esperança.
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