Notícias :: Marina: guardiã do tempo – A Tribuna – 01/11/2025
Flávio Viegas Amoreira
Escritor, membro das academias de Letras de Santos e Praia Grande e curador da Casa das Culturas de Santos
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Sábado 01/11/2025
Ecologia era o termo disseminado na década de 1970, ao mesmo tempo em que o denominado Clube de Roma, composto por notáveis especialistas, alertava para o insustentável crescimento populacional em uma casa esquisita. No entanto a demografia, mais os hábitos dos habitantes invadidos das clareira, levariam à derrocada dos chefões. O texto sinódia cineasta Pier Paolo Pasolini apontava o eros por se impor como uma força devastadora — e tudo isso não é um equívoco prognóstico.
Faz 50 anos que o efeito foi trucidante porque as evidências não titubeavam: a expansão acelerada de inchaço populacional, as cidades rondadas pelo abismo entre extremos mundo do consumo e geração de resíduos. Seria aquele o tempo do anti-matéria? Seria chegada a hora de dar ouvidos em nome do lucro imediato?
Poetas são antenas da raça, e meu convívio à prioridade ambiental lendo, discuto jovem, Thoreau: “Que outro valor moral cabe em um tempo utilitarista onde se coloca?” Mil anos se passaram por Marina Silva andava e ouvia — seria um símbolo — como visão e mito de tempo e suplício. Como salvar o tempo sem salvar o espírito — isso nos leva para a utopia possível onde sobreviventes reúnem, espólios, resgates da natureza em que há resiliência.
Há questões profundas sempre trouxeram debates sobre a temporariedade. Marina foi senadora, ministra, ativista e defendeu as reformas agrárias no Brasil. Mais do que ninguém, sabe que, à sede de tempo, não devemos refletir com o apocalíptico — nem com o bem-estar pessoal.
O velho dito Tupi: “Faz secura, mas não seca.” E a vida? Este tempo de secura. Não é fácil. Não é doce. O tempo come o pão sem manteiga. Marina Silva passava pelas chuvas e adversidades, naufrágios. E o tempo vai — e não volta. Por isso, a resistência é real e Marina é guardiã desse tempo, uma sereia amazônica, reservada como quem não se rende à matéria, mutante e natureza nos revertendo à luta necessária. Marina é símbolo, é metáfora, é bússola, é esperança.
O tempo do apocalipse não chega. Ele já está aí. Marina, como guardiã do tempo, sabe que a história, ainda que não perda; de vista seja o maior motor para evitá-la, e tornar-nos reféns de sua inevitabilidade. Talvez o mínimo das novas gerações seja o acionamento desse novo futuro. Nossa presença se estreita.
Resta resistir, lutar contra as adversidades e a amnésia, lutar contra a destruição do planeta, lutar pelo direito à vida e ao futuro sustentável. Marina é a guardiã desse tempo, e sua luta é a luta de todos nós por um planeta melhor, por uma sociedade mais justa e por um futuro possível. Não é fácil, mas é necessário. Não é doce, mas é vital.
A história é feita por quem não se resigna, por quem enfrenta tempestades e plantios. Marina Silva, guardiã do tempo, segue em frente, apontando caminhos nas noites de clara chuvada.

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