Notícias :: Santos, mostra tua cara! – Flávio Viegas Amoreira
Flávio Viegas Amoreira
Escritor, membro das academias de Letras de Santos e Praia Grande e curador da Casa das Culturas de Santos
flavioamoreira@uol.com.br
18 GALERIA - A TRIBUNA
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Sábado 4/10/2025
Santos, mostra tua cara!
Um céu com brilho amarelo que desce, anhecia. Uma luz tão mais penetrante que a do sol nascente. Assim dizia Tomie Ohtake sobre a chegada à Baía de Santos, com olhos de pintar o Éden. Quanto carinho tinha pelo primeiro porto que a abrigou em Pindorama. Conversas intermináveis no ateliê de seu gravador Claudio Vasquez, na Rua São José. De Tomie, guardo linda gravura com poema do gênio universal Haroldio de Campos. Haroldio que conheci nas tertúlias do irmão em arte, Gilberto Mendes.
Neste começo de primavera, o Sesc nos deu dois presentes de "santisticidade": a estreia nacional do já consagrado documentário sobre Sérgio Mamberti, Memórias de um ator brasileiro, de Evaldo Mocarzel. Metade do longa, que vai ser exibido pela TV Sesc, tem Santos como protagonista. A Santos das travessias do canal a nado, dos trinta e dois cinemas de rua, do Clube de Arte de Mário Gruber e Maurice Legeard, a Santos de Jonas Mello, Ney Latorraca e, claro, a Santos de Pagu, que adotou o jovenzinho de 14 anos, pupilo intelectual.
Serginho abre seu estupendo livro de memórias Senhor do Meu Tempo com um título geral: "Nascido em Santos, entre São Paulo e o mundo". E o mundo vem a nós como vieram Puccini no primeiro Parque Balneário, Sarah Bernhardt no Guarany, Arthur Rubinstein e Massine, sucessor de Nijinsky, no Coliseu. Santistas sem ufanismo, mas conscientes de uma microcivilização a ser ainda mais cultivada.
Noite memorável a do Sesc-Santos! Homenagem aos 90 anos de Plínio Marcos com seu filho Kiko Barros e o biógrafo Oswaldo Mendes. Me entristece saber que Kiko tentou todos os canais para celebrar essa data na cidade e obteve pouco retorno. Na Casa das Culturas, exibimos em primeira mão o documentário de Antonio Muñoz, Plínio Marcos, o Homem do Caminho. E vamos lutar para que suas obras sejam reeditadas, e sua memória não seja apenas estudada internacionalmente em teses de mestrado, exibições em Paris e em Cuba, mas também reverenciada no berço que ele tanto universalizou. Tônia Carrero era incisiva ao dizer: "O teatro brasileiro é Nelson Rodrigues e Plínio Marcos."
O pão de cará e as muretas da praia são ótimas marcas, mas Santos é muito mais – é 500 anos mais! Não cabe só ao poder público o resgate cultural; à sociedade civil, às universidades, nós, artistas, devemos provocar um plano integral de projeção do nosso legado. Onde estão as reedições das obras de Bonifácio? Onde a encenação dos clássicos de Plínio Marcos? Gênova parou para celebrar Colombo! Salvador parou pelos oitenta anos de Gal Costa!
Convoco os leitores a conhecer o Memorial José Bonifácio na Casa das Culturas, agora ocupada pela Fábrica 4.0, pelo projéto Vovô Sabe Tudo, pelo querido – glorioso movimento de cinema socioeducativo. E vamos criar uma biblioteca dedicada a Carolina em Ramos; quantas cidades do Brasil têm uma poeta ativa aos 102 anos?
Aqui as coisas acontecem, mas falta liga, falta um cronograma orgânico que reconheça tradição e vanguarda. Alguns fatores se rão vitais: uma nova biblioteca municipal, um destino ambicioso ao Coliseu e estimular ainda mais a boemia. Livros, teatro, noite – tudo isso tem nos bares melhor alinhavo.
A Barra Funda acaba de ser eleita um dos três bairros mais legais do planeta pela mídia inglesa – e de estilo os ingleses sabem tudo. O segredo? Quatrocentas fábricas deram lugar a 900 bares e espaços culturais.
É a Arte, Santos!

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