Notícias :: Um teatro para São Vicente – A Tribuna 01/11/2025
Flávio Viegas Amoreira
Escritor, membro das academias de Letras de Santos e Praia Grande e curador da Casa das Culturas de Santos
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TRIBUNA LIVRE - A TRIBUNA
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Sábado 01/11/2025
A imprensa pode muito numa sociedade vibrante. Assim, no começo dos anos 60, nossa Patrícia Galvão, a eterna Pagu, ao lado do editor-chefe deste jornal histórico, Geraldo Ferraz, promoveu férrea campanha para a construção de um teatro público para Santos.
Patrícia não sobreviveu para ver seu sonho realizado no arrojado complexo projetado pelos arquitetos Abrahão Sanovicz, Julio Katinsky e Oswaldo Corrêa Gonçalves. O então prefeito desenvolvimentista Silvio Fernandes Lopes levou o sonho de artistas locais e da visionária escritora mundial, que tanto amava o teatro, a começar pelo poeta e dramaturga Itacy de Souza Telles, soube que a autora que merece ser revista em nossos arremedos de agenda teatral crônica.
Isso lemos nos livros de aguerrida mestre Lucia Teixeira, que trouxeram à luz o legado da musa modernista, o quanto seu magistério é hoje pertinente para a amada São Vicente. No momento em que a Cellula Mater se prepara para meio milênio de civilização brasileira, é inconcebível que o berço de nossa cultura não tenha um teatro para chamar de seu.
Não falo de uma simples casa de espetáculos, e sim um equipamento que congregue todas expressões artísticas que só o teatro, solo sagrado, sabe catalisar. Minha gente! Foi em São Vicente que o teatro nacional nasceu pelo gênio e o engenho do padre Anchieta! Sim, o poeta e dramaturgo que percorreu o litoral de Pindorama e fundou São Paulo, encenando autos e representações para os aldeões indígenas e ibéricos, forjando em semente de brasilidade.
Citemos alguns celulares que poderiam ser celebrados numa monumental encenação de Presépio de Anchieta durante o Auto da Festa do Natal.
Foi São Vicente o palco aberto quando o gênio de Tenerife criou nossa primeira gramática tupí e o primeiro presépio, marca da cristandade nas Américas.
Como nossa cidade-irmã não conta com um teatro? A encenação da fundação por Martin Afonso não é substitutivo sazonal dum teatro de nossa estirpe, ao contrário! Uma cidade com tanta carência de políticas públicas permanentes não pode prescindir de um teatro simbolicamente centralizador. O teatro é a mãe-mãe de todas as artes. O teatro das origens, é um farol raro de socialização e aprendizagem lúdico e crítico imprescindível para todas gerações!
Cabe às pessoas de sensibilidade histórica inquietar-se para que São Vicente e toda a Baixada Santista sonhem este teatro necessário. A terra de Ivani Ribeiro bem merece o gesto que inspire sua gente a reacender velhos e bons sonhos. O teatro em São Vicente celebra o povo, seus devaneios, sua luz, sua beleza além dos temporal de justiça.
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