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Notícias :: Disco Prateado – A Tribuna 31/10/2025


Jardel Pacheco


Professor, escritor, diretor de Relações Públicas da Contemporânea - Projetos Culturais, membro da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios
OPINIÃO - A TRIBUNA
www.atribuna.com.br
SEXTA 31/10/2025


Nas noites em que o céu não se fecha em nuvens, costumo olhar para cima. É quase um ritual silencioso, íntimo. Confesso: nunca vi um cometa ou ovni. Gostaria de vê-los, especialmente com tantos relatos nas redes sociais, mas infelizmente nunca aconteceu. Então, meus olhos seguem em busca daquela presença constante e mutável: a **Lua**. Lá está, às vezes cheia, iluminando tudo com sua plenitude; outras vezes, minguando, como quem se recolhe em silêncio; crescente, parece prometer algo novo e há noites em que simplesmente não aparece, e sua ausência também fala.

Para mim, continua sendo um mistério suspenso no céu, inspirando poetas, versos, compositores, canções atuais e aquelas que atravessam gerações, e claro, os amantes. Não sei se ainda inspira os românticos como antes. Talvez hoje, com tantas luzes artificiais e distrações digitais, ela tenha perdido parte de seu encanto. Os povos antigos a reverenciavam. Ela decidia o tempo de plantar, de colher, de celebrar, era guia, conselheira e oráculo. Seu ciclo virou medida de tempo e assim nasceu o calendário. Não era apenas um corpo celeste: era presença divina, influência direta sobre a vida. Muitas pessoas cortam o cabelo na fase certa, aparam as unhas com precisão astral, consultam o mapa como quem lê um manual da alma.

Mia Couto, em epígrafe de "Contos do nascer da Terra", escreve: "Não é da luz que carecemos... O mundo necessita ser visto sob outra luz: a **luz do luar**, essa claridade que cai com respeito e delicadeza. Só o luar revela o lado feminino dos seres, a intimidade da nossa morada terrestre. Não precisamos do nascer do Sol. Carecemos do nascer da Terra."

Sabe aquela geladeira antiga que ainda precisa ser descongelada de tempos em tempos? Pois é, tenho uma dessas. Não é *vintage* por estilo, é por espólio; memórias eternas de quem não está mais na Terra. Ela resiste à modernidade como quem diz: "Não me venham com *frost-free*, sou clássica, tradicional, da velha-guarda". Eu a obedeço com panos e paciência. Uma noite, olhando para o céu, pensei: será que a Senhora da Noite, aí do céu, pode me ajudar? Dizem que a fase minguante é boa para eliminar, desapegar, cortar o que não serve. Perguntei-me fazendo planos: na próxima Lua minguante, vou descongelar a geladeira. Não sei se vai funcionar melhor, se o gelo vai se desprender com mais facilidade ou se o universo vai conspirar a favor do degelo, mas só de alinhar tarefas domésticas com os ciclos celestes, já me sinto quase um druida urbano.

Superstição ou apenas uma forma de dar sentido às pequenas coisas? No fundo, viver também é isso: encontrar poesia no cotidiano, enxergar magia onde antes só havia gelo. E se a Lua pode ajudar nisso, por que não tentar? Ah, e sobre cometas e ovnis: no fim, somos feitos da mesma matéria do Cosmo. Do verbo vivemos. Ao verbo voltaremos.




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