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Notícias :: Sempre teremos o Guarujá – Flávio Viegas Amoreira


Flávio Viegas Amoreira


Escritor, membro das academias de Letras de Santos e Praia Grande e curador da Casa das Culturas de Santos
flavioamoreira@uol.com.br

18 GALERIA - A TRIBUNA
www.atribuna.com.br
Sábado 11/10/2025

Um formoso fidalgo florentino, Américo Vespúcio, passou pelo que seria nosso Guarujá em janeiro de 1501. Já havia nomeado o continente, o Rio São Francisco e desmistificado a ideia de que éramos parte das Índias. Um homem universal, aportou fascinado na Praia de Santa Cruz, divisando a orla cor de relva entre o estuário e São Vicente.

É preciso um longo parágrafo proustiano, caro leitor, para retratar um explorador de mundos crescido numa biblioteca de Florença – e Florença era o centro do planeta. Dizem que "América" já era usado pelos povos pré-colombianos; importa que Vespúcio é exemplo clássico de um erudito que foi à luta para descobrir e cartografar metade do globo.

O paraíso ficou quase intocado por séculos, até que foi ocupado por um hábito novo: tomar banho de mar! Sim, o apetite balneário dos ocidentais é recente e teve inspiração medicinal. Lembrei-vos de que o Imperador Pedro II se aventurava a ir ver a passagem de baleias na inóspita Copacabana. Com a paixão dos poderosos ingleses pelas águas quentes do Mediterrâneo – e mesmo na costa basca – voltaram as atenções à Riviera Francesa, que fez de aldeias de pescadores exemplos de fausto e luxo, como em Biarritz.

Guarujá surgiu inspirada em Biarritz: a francesa, por companhias do Império Britânico para o deleite do séquito da Rainha Vitória; a nossa, pelo empenho de um nobre que faria a República, Antônio Prado – e, claro, com o patrocínio da City londrina. Hotéis pré-moldados com pinho americano, casas para funcionários de apoio, o trenzinho ligando a praia à outra margem do porto – tudo concebido para o veraneio dos barões do café.

A elite econômica de antanho financiava arte ostensivamente: foi o café que bancou os primeiros museus até a Semana de 22. E o Conselheiro Prado, além das ondas prateadas das Pitangueiras e do La Plage, ajudou na eternização do Guarujá paradisíaco.

Se Biarritz foi reconhecida pelos romances de Victor Hugo, Guarujá foi tema de mais de um conto de Vicente de Carvalho. Sim, caros, os governantes liam! Essa Guarujá lindamente selvagem foi pintada por Anita Malfatti, por Volpi, mas foi o pai da pintura reconhecidamente brasileira – ao lado de Calixto e Almeida Júnior – quem mais retratou o Astúrias, a Enseada, essa geografia perolada.

Vocês conhecem as telas antológicas do mestre Almeida Júnior: Moça com livro e Caipira picando fumo. O Brasil pintado nasce ali. Mas, se quiserem ver o belo mar selvagem de nossas praias solitárias, voltem os olhos às suas marinhas do Guarujá.

Guarujá foi Tão Biarritz que chegou a ter um festival internacional de cinema nos anos 1960, promovido pelo rei da noite Ricardo Amaral, nos primórdios de sua badalada trajetória. Mas, sem comparações, aquele Guarujá – como no cult Casablanca – sempre reviverá.

Martins Fontes sabia ser o recanto onde compor poesia, quando exulta nos célebres versos:
Quando, no Guarujá / de abril a maio / O Pitangal se torna verde-gaio / Surgem os colibris, multicores... / E não sabe se sabe mais / ao sol em festa / Se os rebrilhos que bailam na floresta / Serão de estrelas ou de beija-flores...

E quanto a comemorar a bandeira azul para o surfe, o mergulho, a vida desnuda de medos na Praia do Tombo! Santa Amaro, velai a ilha em forma de dragão – dai-lhe destemor aos seus desafios!


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